Quando as coisas dão errado, muita gente diz que a culpa é do estagiário. Na área de marketing, essa culpabilização pode ser ainda mais comum:
Publicou uma foto errada nas redes sociais? A culpa é do estagiário.Enviou um email no dia errado? A culpa é do estagiário.Respondeu a um cliente de forma equivocada? A culpa é do estagiário.
Muitas vezes, essa frase é usada em tom de brincadeira. Em outros casos, serve para atribuir culpa mesmo. De qualquer forma, você percebe como essa atitude é carregada de preconceitos e pode revelar falhas na gestão das empresas?
Neste artigo, vamos analisar melhor o que está por trás dessa frase e da atitude de botar a culpa dos erros da empresa no estagiário. Você vai perceber que nem sempre a responsabilidade é do estagiário — muitas vezes, é da gestão do negócio. E, quando o estagiário realmente erra, não deveria ter os dedos apontados para ele.
Acompanhe agora para refletir sobre esse assunto conosco!
Qual o problema da frase “a culpa é do estagiário”?
Muitas vezes, a frase “a culpa é do estagiário” é dita em tom de brincadeira. Pode ser que o erro não tenha nada a ver com o estagiário, mas a culpa sobra para essa pessoa.
Afinal, estagiários são novatos e viram “saco de pancadas” nas empresas. Mas, como vamos ver mais adiante, essa atitude pode inibir as melhores contribuições que ela poderia dar às empresas e ao mercado.
Em outros casos, a responsabilidade pode ser mesmo do estagiário ou da estagiária. É natural, não é? Afinal, essa atividade pressupõe que a pessoa ainda não é um profissional completo. Portanto, tende a errar mais até adquirir conhecimento e experiência.
Dessa maneira, a culpabilização não ajuda muito no desenvolvimento pessoal e profissional. Em vez disso, as empresas deveriam acolher os erros e trabalhar para que não mais aconteçam. Nesses casos, colocar a culpa no estagiário só mostra o despreparo da empresa em criar um plano e um ambiente propícios ao crescimento dos profissionais.
Pior ainda é quando o estagiário leva a culpa por erros da empresa, tendo assumido atividades que não são condizentes com a sua posição. O estágio, como veremos, é uma atividade para quem está em formação profissional. Portanto, não deve envolver responsabilidades e tarefas no mesmo nível de quem já é formado e tem experiência.
Aliás, a remuneração de estagiários não é a mesma dos efetivados, o que reforça que eles não devem ter as mesmas responsabilidades e tarefas.
Quando isso acontece, a culpa realmente não é do estagiário. A culpa é da gestão do negócio que não desenvolveu um plano de atividades adequado, que não soube contratar, que não soube delegar.
E existem ainda os casos em que a responsabilidade dos erros é de outro profissional que quer se eximir das falhas e colocar a culpa em quem é mais vulnerável, apenas por má-fé. Nesses casos, fica claro que há um ambiente de trabalho tóxico, que precisa ser trabalhado.
Como é o estágio no Brasil?
O estágio é uma atividade essencial para profissionais em formação. É a oportunidade de vivenciar o aprendizado da sala de aula, de enfrentar os desafios do mercado, de conviver com colegas da sua área, de entender as relações e hierarquias do ambiente de trabalho.
Por isso, essa atividade é regulamentada no Brasil. O estágio é previsto em legislação desde 1942, por meio do Decreto-Lei nº 4.073. Em 1977, foi promulgada a primeira lei que tratava especificamente dos estágios (Lei nº 6.494).
Mas foi somente em 2008, com a chamada Lei do Estágio, que o estágio de estudantes passou por uma nova concepção e recebeu as atuais regras.
De acordo com o art. 1º da Lei nº 11.788, o estágio é um “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos”.
A lei ainda define que o estágio pode ser obrigatório ou não-obrigatório nas instituições de ensino, não cria vínculo empregatício e depende da celebração do termo de compromisso entre a instituição de ensino, a empresa e o aluno.
A jornada de atividades do estagiário deve ser definida em comum acordo e não deve ultrapassar:
4h/dia ou 20h/semana, para estudantes de educação especial e ensino fundamental;6h/dia ou 30h/semana, para estudantes de ensino superior, educação profissional de nível médio ou ensino médio regular.
Além disso, a duração do estágio não pode exceder 2 anos. É assegurado, ainda, o recesso de 30 dias para o estágio que durar 1 ano ou mais (preferencialmente durante as suas férias escolares).
Deveres das empresas
A lei trata ainda dos deveres das empresas e instituições que concedem os estágios. Elas devem, por exemplo, designar um profissional na área de atuação do estagiário para orientar e supervisionar suas atividades.
Devem, também, enviar relatório do estagiário à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 meses, além do termo de realização do estágio com resumo das atividades e avaliação de desempenho no momento de encerramento do compromisso.
As empresas também devem cumprir um número máximo de estagiários em relação ao seu quadro de funcionários:
de 1 a 5 empregados: 1 estagiário;de 6 a 10 empregados: até 2 estagiários;de 11 a 25 empregados: até 5 estagiários;acima de 25 empregados: até 20% de estagiários.
Qual é o papel do estagiário?
Um estagiário está na sua empresa para aprender. É um profissional em formação, que ainda não tem experiência nem pleno domínio técnico. Por isso, é evidente que um estagiário está mais suscetível a erros.
Mas é papel do estagiário também contribuir com a visão de quem está chegando ao mercado. Embora o estagiário queira entender como as coisas funcionam, ele também pode questionar vícios e comportamentos das empresas que acabam minando sua atuação e sugerir ideias diferentes para solucionar os problemas.
Quem trabalha há anos no mercado já se conformou, mas quem está chegando pode propor novas soluções. Isso significa que estagiários e estagiárias podem ser um caminho para a inovação nas empresas.
Além disso, um estagiário que se desenvolve dentro da empresa pode se tornar um colaborador contratado quando se formar (ou antes mesmo) e qualificar o seu quadro funcional. Melhor ainda é que esse profissional já está alinhado às rotinas e à cultura da empresa, o que reduz muito as chances de turnover.
Quando a culpa não é do estagiário?
Embora o estágio seja atividade regulamentada no Brasil, muitas empresas não cumprem a legislação. Contratam mais estagiários que o permitido, atribuem funções inadequadas a eles, exigem uma carga horária excessiva, entre outros abusos.
Muitas vezes, contratar estagiários é visto como uma forma de ter “mão de obra mais barata”. Assim, eles acabam exercendo funções que deveriam ser de profissionais formados ou assumem tarefas burocráticas e rotineiras que não contribuem para a sua formação profissional.
Então, será que essas empresas podem responsabilizar os estagiários por qualquer erro que aconteça? Um estagiário contratado para suprir mão de obra, que assume atividades inadequadas e cumpre uma carga horária excessiva não pode ser culpado de nada.
O que fazer nessa situação?
Em vez de culpar estagiários e estagiárias, essas empresas deveriam olhar para as práticas de gestão do negócio e revisar os valores éticos que guiam a sua atuação.
A contratação de estagiários tem o propósito de contribuir para a formação de novos profissionais. Então, a empresa deve elaborar um plano de atividades para cada estagiário, que sejam condizentes com a sua área de formação, além de designar um profissional para supervisão e orientação. Conhecer as disposições da Lei do Estágio é o primeiro passo para isso.
Além disso, não é ético contratar estagiários apenas como mão de obra barata, definir uma carga horária inadequada, muito menos desrespeitá-los. Nesse caso, a empresa precisa refletir sobre a sua cultura organizacional e, é claro, colocar valores positivos em prática.
E se a culpa for do estagiário, o que fazer?
Como um profissional em formação, os estagiários realmente podem errar de vez em quando. Aliás, qualquer profissional pode errar, não é?
Porém, uma empresa que pune erros buscando culpados ou com outros tipos de punição inibe seus colaboradores. Quando são estagiários, esse impacto é maior ainda, já que eles têm a insegurança de quem está começando. É isso que acontece quando dizemos que “a culpa é do estagiário”, já que a pessoa pode se sentir constrangida e inibida.
Por isso, a inovação requer que a empresa saiba abraçar vulnerabilidades e falhas. Dessa forma, os estagiários se sentem encorajados a contribuir com novas ideias e soluções. Criar um ambiente hostil ao erro, por outro lado, inibe a criatividade e as ideias que poderiam se transformar em soluções inovadoras.
Então, se você perceber que o estagiário ou estagiária realmente errou, não busque punições. Procure identificar o erro — pode ser técnico ou comportamental — e estabeleça um diálogo para entender os motivos e o que pode ser feito para que não mais aconteça. Dessa forma, você contribui para o desenvolvimento daquele profissional, em vez de constrangê-lo.
Para isso, é importante ter profissionais que orientem o estagiário. Um profissional da área pode orientar sobre questões técnicas, mas muitas vezes um gestor ou um mentor podem guiar sobre questões comportamentais. A intenção é que o estagiário aprenda com o erro e se torne um profissional mais qualificado, e não que isso se torne um bloqueio.
Quais são os erros mais comuns de estagiários?
Existem alguns erros comuns de estagiários, principalmente em relação às habilidades comportamentais ou soft skills. Eles são profissionais ainda imaturos, que estão conhecendo o mercado de trabalho, e precisam de orientação para se desenvolver. Vamos ver agora alguns dos principais erros que merecem atenção:
Falta de paciência
Muitos jovens chegam ao mercado de trabalho com a ânsia de crescer. Querem logo ser efetivados ou assumir funções superiores. Porém, o crescimento profissional não acontece da noite para o dia. É um desenvolvimento gradual, passo a passo. Por isso, é importante orientar os estagiários sobre a necessidade de ter paciência para aprender com o tempo.
Falta de polidez
Os estagiários chegam com a energia e a descontração da juventude. Muitas vezes, estão recém saindo da adolescência. Então, ainda precisam aprender a se portar em um ambiente formal de trabalho — ao participar de uma reunião com cliente ou escrever um email, por exemplo.
Mesmo que a empresa seja moderna e inovadora, existem hierarquias e formalidades que demonstram respeito na relação com as outras pessoas.
Não perguntar (ou perguntar demais)
É natural que estagiários tenham várias dúvidas. Estão em um ambiente novo, com atividades novas. Então, perguntar significa que a pessoa tem interesse em aprender, o que é muito valorizado pelas empresas.
Porém, muitos estagiários têm medo de perguntar às outras pessoas e demonstrar seu desconhecimento. Outros acham que já sabem tudo e não têm humildade para aprender com os outros. Tudo isso é um erro para quem está começando.
Por outro lado, espera-se que o estagiário seja proativo e busque respostas por conta própria. A autonomia também é valorizada pelas empresas. Por isso, perguntar demais também pode ser um erro.
Agora, vale a pena analisar como estão as suas práticas de gestão na relação com estagiários, desde a contratação. Você procura estagiários para gastar menos com funcionários? Você deixa os estagiários sem qualquer orientação? Aliás, você cumpre a Lei do Estágio?
Essas provocações podem ajudar a melhorar a relação da sua empresa com esses profissionais em formação, que podem se tornar os seus melhores colaboradores.
Agora, aproveite para ler mais sobre gestão de marketing e aprender a otimizar o desempenho da equipe nessa área!
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